domingo, 28 de julho de 2013

The Arrival of the Bee Box (Sylvia Plath)

I ordered this, this clean wood box
Square as a chair and almost too heavy to lift.
I would say it was the coffin of a midget
Or a square baby
Were there not such a din in it.

The box is locked, it is dangerous.

I have to live with it overnight
And I can’t keep away from it.
There are no windows, so I can’t see what is in there.
There is only a little grid, no exit.

I put my eye to the grid.

It is dark, dark,
With the swarmy feeling of African hands
Minute and shrunk for export,
Black on black, angrily clambering.

How can I let them out?

It is the noise that appals me most of all,
The unintelligible syllables.
It is like a Roman mob,
Small, taken one by one, but my god, together!

I lay my ear to furious Latin.
I am not a Caesar.
I have simply ordered a box of maniacs.
They can be sent back.
They can die, I need feed them nothing, I am the owner.


I wonder how hungry they are.
I wonder if they would forget me
If I just undid the locks and stood back and turned into a tree.


There is the laburnum, its blond colonnades,
And the petticoats of the cherry.


They might ignore me immediately
In my moon suit and funeral veil.
I am no source of honey
So why should they turn on me?
Tomorrow I will be sweet God, I will set them free.


The box is only temporary.




A chegada da caixa de abelhas (Sylvia Plath)
[tradução de The Arrival of the Bee Box, feita por Rodrigo G. Lopes e Maria C.L. Macedo]

Encomendei esta caixa limpa de madeira

Quadrada como uma cadeira, pesada demais para carregar.
Diria que é o esquife de um anão
Ou de um bebê quadrado
Não fosse o ruído que dela escapa.

Está trancada, é perigosa.
Tenho que passar a noite com ela
Não consigo me afastar.
Não há janelas, não posso ver lá dentro.
Apenas uma pequena tela e nenhuma saída.

Espio pela fresta.

Tudo escuro, escuro,
Com a enxame sensação de mãos africanas
Minúsculas, encolhidas para exportação,
Negro no negro, escalando com fúria.

Como deixá-las fugir?
O barulho é o que mais me apavora,
As sílabas incompreensíveis.
São como uma turba romana,
Não são nada, separadas, mas juntas, meu Deus!

Ouço este latim furioso.

Não sou um César.
Só encomendei uma caixa de maníacas.
Podem ser devolvidas.
Podem morrer, não preciso dar comida, sou a dona.

Me pergunto se têm fome.

Me pergunto se me esqueceriam
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.Há o laburno, suas louras colunatas,
E as anáguas da cerejeira.

Bem podiam me ignorar

Em meu vestido lunar, meus véus funéreos.
Não sou fonte de mel,
O que querem de mim?
Amanhã serei o doce Deus, vou soltá-las enfim.A caixa é apenas temporária.

sábado, 27 de julho de 2013

bise

Melhorou. Foi só o frio, o gelo e uma pedra que se formou. A respiração foi aparentemente controlada, e a corrida pelo sistema digestivo foi discreta. Não havia estrelas reais nem imaginárias, no céu, mas foi como se houvesse, com o conhecimento de que não havia. O consentimento e a iniciativa se encontraram. Houve quebra daquela sequência do simples, do sozinho, do mecânico, do programado com um um brinde quadrado e pseudorefrescante. Quando se tem movimentos, sabor pra quê? Tinha tudo: dentes, orelha, nariz, barba, cabelos e... desespero, ah [suspiro bom] o desespero. Era no tempo do vermelho tornar-se verde, era o desespero do tempo e o desespero do movimento. E não tinha ninguém dizendo "Calma!". Só a beleza do bom desespero, o "barato" do desespero, the thrill. Tenso e intenso... e o desespero. O desespero lindo que  em 24 horas se atropelou, e agora se calou, porque interpretou mal os símbolos e as consequências. O desespero espera agora com calma pela próxima voltinha e pelas novas cores que ele pode enxergar. O desespero era o ato e o desespero era ela.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

E se a lua cair em cima de nós?

                                                                                             Campinas, 07/2013

Quero saber por que você gostou da imagem virada, antes mesmo que eu acertasse a posição dela, antes que ela tivesse uma segunda chance. Por que deixar a lua cair em nossas cabeças assim de primeira? Ou sou eu que não entendo a beleza da imagem virada e já me assusto com a lua nessa posição inusitada?

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Perdizes, 11 de Abril de 2008, recepcionista entediada na hora do almoço


mundo do tamanho de um ovo, te odeio!

Acabo de lembrar de uma tatuagem horrorosa nas costas bem escondida junto de várias mentiras. Acabo de lembrar de uma ferida. Quantas pessoas existem no mundo e quantas existem ao meu redor? Como é que aquele é seu amigo, você- que-finjo-que-não-conheço? Então será que ele está mentindo? Serão vocês um time de bandidos? Ou de doidos varridos? Colecionará ele também corações partidos das "queridas"? Das loucas esquisitas, que eu não tenho problema em assumir antes que você o diga! Há por aí ingressos só de ida, para armadilhas e outras ilhas não tão tranquilas. Mas há chicas pensativas e menos passivas procurando entender de quem é a sombra neste beco sem saída.

"Out of the ash I rise with my red hair And I eat men like air"

[Clicando aqui é possível ouvir Plath lendo Lady Lazarus]


Lady Lazarus

Sylvia Plath

I have done it again.
One year in every ten
I manage it--

A sort of walking miracle, my skin
Bright as a Nazi lampshade,
My right foot

A paperweight,
My face a featureless, fine
Jew linen.

Peel off the napkin
O my enemy.
Do I terrify?--

The nose, the eye pits, the full set of teeth?
The sour breath
Will vanish in a day.

Soon, soon the flesh
The grave cave ate will be
At home on me

And I a smiling woman.
I am only thirty.
And like the cat I have nine times to die.

This is Number Three.
What a trash
To annihilate each decade.

What a million filaments.
The peanut-crunching crowd
Shoves in to see

Them unwrap me hand and foot--
The big strip tease.
Gentlemen, ladies

These are my hands
My knees.
I may be skin and bone,

Nevertheless, I am the same, identical woman.
The first time it happened I was ten.
It was an accident.

The second time I meant
To last it out and not come back at all.
I rocked shut

As a seashell.
They had to call and call
And pick the worms off me like sticky pearls.

Dying
Is an art, like everything else.
I do it exceptionally well.

I do it so it feels like hell.
I do it so it feels real.
I guess you could say I've a call.

It's easy enough to do it in a cell.
It's easy enough to do it and stay put.
It's the theatrical

Comeback in broad day
To the same place, the same face, the same brute
Amused shout:

'A miracle!'
That knocks me out.
There is a charge

For the eyeing of my scars, there is a charge
For the hearing of my heart--
It really goes.

And there is a charge, a very large charge
For a word or a touch
Or a bit of blood

Or a piece of my hair or my clothes.
So, so, Herr Doktor.
So, Herr Enemy.

I am your opus,
I am your valuable,
The pure gold baby

That melts to a shriek.
I turn and burn.
Do not think I underestimate your great concern.

Ash, ash--
You poke and stir.
Flesh, bone, there is nothing there--

A cake of soap,
A wedding ring,
A gold filling.

Herr God, Herr Lucifer
Beware
Beware.

Out of the ash
I rise with my red hair
And I eat men like air.

Por que as pessoas escrevem?

Por que as pessoas escrevem? Já me fiz tantas vezes esta pergunta que hoje posso respondê-la com a maior facilidade. Elas escrevem para criar um mundo no qual possam viver. Nunca consegui viver nos mundos que me foram oferecidos: o dos meus pais, o mundo da guerra, o da política. Tive de criar o meu, como se cria um determinado clima, um país, uma atmosfera onde eu pudesse respirar, dominar e me recriar a cada vez que a vida me destruísse. Esta é a razão de toda obra de arte. Só o artista sabe que o mundo é uma criação subjetiva, que é preciso escolher, selecionar. A obra é a concretização, a encarnação do seu mundo interior. Ele espera impor sua visão pessoal, partilhá-la com os outros. Se não atinge esta última finalidade, o verdadeiro artista persiste assim mesmo. Os poucos momentos de comunhão com o mundo valem esse sofrimento, pois finalmente esse mundo foi criado para os outros como um legado, como um dom destinado a eles. Também escrevemos para aprofundar o nosso conhecimento da vida. Para atrair, encantar e consolar. Escrevemos para acalentar nossos amantes. Para degustar em dobro a vida: no momento preciso e retrospectivamente, na sua lembrança. Escrevemos, como Proust, para tornar as coisas eternas e para nos convencermos de que elas o são. Para podermos transcender nossa vida e alcançarmos o que existe além dela. Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem no labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os pássaros cantam, como os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não grita, não canta, então não escreva porque sua literatura será inútil. Quando não escrevo meu universo se reduz; sinto-me numa prisão. Perco minha chama, minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades - é a isto que eu chamo respirar. (NIN, Anaïs. "A nova mulher". In: Em busca de um homem sensível, pp. 18-19)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Can we start this conversation over?

De volta à solidão, apagou as luzes e teve a impressão de ter ouvido o som de uma respiração dentro da geladeira - talvez fosse um barulho na vizinha - e então aproximou-se duas vezes da geladeira querendo algo mais absurdo do que buscar em seus devaneios saber quem era a mãe de uma cachorrinha. Quis entrar na geladeira pra ver se lá dentro era menos frio do que aqui fora. Além disso, percebeu que começava a derreter.

i know that i can be cold sometimes. 
there was snow on the ground 
when i was born, 
and the stars didn't shine 
that night. 

take me out, take me out, 
and i'll melt, i'll melt. 


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Passagem

Não deveríamos comparar o que sentiu quem viveu a experiência com quem estudou dados, fatos e teorias de experiências como essas. Não mesmo. Mas acontece que de repente essas duas pessoas compõem um símbolo só. Não, nunca descartando a singularidade, nem o significado específico de cada uma em suas respectivas situações. Mas por um instante somos passos rápidos, estratégias, medo do escuro, sede de luz. Presenças que ora nos dão coceira, ora nos fazem compressas. Há uma pressa em ver as luzes dos semáforos e do céu trocarem de cor. Os ouvidos se aguçam para dominar o que o olhar turvo não comporta na tontura de nossos pensamentos e memórias. O toque dos saltos irritam, as vozes não se decifram. Falamos muito-e-rápido, como se cada palavra pudesse nos fazer avançar dez passos e diminuir dez minutos na distância. Por um minuto penso que eu queria que meu nervoso se manifestasse num passar pó-de-arroz no rosto, encontrado no fundo da bolsa. Somos nós que nos levamos até ali no fim das contas, lado a lado, sem que fosse preciso dar as mãos, pois são os nossos devaneios, os nossos questionamentos e a análise do que sentimos que nos permitem enxergar outro cachorro em mais uma rua escura.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

alguns obstáculos aqui e ali

Não consigo fazer uma lista de links, não consigo mudar onde diz "um comentário" para "um novo pensamento", e não tenho boas ideias para preencher o perfil.
Tenho dificuldade com vínculos, é difícil eu trocar o nome das coisas, e não sei definir quem eu sou.

Ontem consegui acertar o horário.
Situar-me no tempo, primeiro passo.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

entre o amanhecer e o pôr-do-sol

E então... você tem a pretensão de comparar o seu mero acaso que você chamou (chama, chama, chama - ainda chama) "melhor beijo da minha vida" com os filmes Antes do amanhecer e Antes do pôr-do-sol... ainda mais agora que faz cinco meses desde que você começou a se reabilitar dele... "reabilitação dele" - dele quem? Do álcool? Não não não, três dedos de vinho e você quer parar por ali, tranquila, sem correr o risco, enquanto três segundos olhando para ele... Por isso melhor que não haja mais contato... nem internet, nem telefone, nem cartas para um endereço que você desconhece mas saberia muito bem descobrir (stalker! stalker!), nada, cinco meses sem informações sólidas. Sem contato, só contando com o acaso, Antes do amanhecer para, dez anos depois, o Antes do pôr-do-sol... quase um acaso, um acaso criado por um livro que traz as lembranças de volta, dez anos depois. Sete anos, sete anos e algumas coisas escritas, uma ignorada, and your chest is a cage for my letters, eu poderia cantar... Parece que estou esperando pra ver o que acontece entre o amanhecer e o pôr-do-sol... Coisa de filme, ou não. Mas então... qual é a semelhança? Olhar como se tirasse uma foto para não se esquecer do rosto e da presença, não esquecer da data, escrever sobre o que aconteceu, viver aquilo sendo jovem e amadurecer pensando nisso tudo. Só isso... Foram só beijos, foi só mais uma garota, foi só mais uma viagem... foi só mais uma garota criada para encantar-se com um olhar de "semi-deus", mais uma garota que se debate entre o encanto e o mundo real. Mais uma garota tenta dar um novo significado a um beijo e a um ser humano de carne e osso.
Foi só um filme... dois.
Até quando será que posso assistir o terceiro filme no cinema, Antes da meia-noite?

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Por que este blog?

Criei este blog para escrever sobre domingos como o de ontem, para escrever sobre esperar o ônibus numa tarde deserta rodeada pelas moscas atraídas pelo cheiro de peixe que restou da feira de sábado, e por um testemunha de jeová que sugere que eu me enquadre entre os retos ou entre os ímpios; também para escrever sobre ser prensada na porta de vidro da catraca do metrô (tenho medo de portas automáticas!) e sobre o corpo dolorido e as marcas roxas que ficam depois da porta de vidro.

Então me recebe

Um cara escreveu coisas que eu não consegui escrever, e cantou!

Então me recebe 
como eu te receberia
no melhor dos momentos
ou no pior dos seus dias
Eu estou tão esgotado,
tudo é frágil demais
Eu posso não estar aqui
quando você olhar pra trás
Então hoje me abraça
como eu te abraçaria
no pior dos seus dias

O nome dele é Jair Naves, e seu show é todo coração.
Primeira forte recomendação deste blog: http://www.jairnaves.com.br 

started out good, started out bad